A primeira sensação...




       ...Era de que um tempo indeterminado havia passado. A segunda, a de que havia uma força puxando seu corpo para a frente.
       A escuridão era predominante e, por mais que tentasse abrir os olhos, eles simplesmente pareciam inexistir. Entretanto, dalguma forma, tudo ao redor era conhecido em sua mente, deste o formato das coisas até a sua exata localização, num verdadeiro mapa mental em tons de preto, cinza e branco.
       Acima, entrecortando o céu difuso, uma ruidosa chuva horizontal dirigia-se retilineamente para além duma grande e brilhante edificação sem entradas ou saídas, dotada duma base afunilada e um corpo hexagonal em que todas as seis arestas eram salientes e os lados, convexos.
       Quanto ao local em que se encontrava, ele era como uma extensa estrada de terra batida ladeada compridas elevações quadradas perfeitamente alinhadas. Nessa via, uma longa caminhada teve início, acompanhada da sensação de que, na verdade, ela havia sido reiniciada, quilômetro atrás de quilômetro sendo percorrido, até que ficou prestes a alcançar a estranha edificação - a qual fora subitamente envolvida por uma titânica mão descida do céu difuso, atravessando a chuva horizontal, e girada três vezes.
       A chuva cessou e, antes que o gigantesco dedo indicador daquela mão colossal pudesse lhe esmagar, Mônica acordou exaltada e nua em sua cama, bem a tempo de ver Eduardo sair do banheiro e ouvi-lo dizer:

       - Na volta, amor, vou aproveitar para comprar um bom inseticida antes que as formigas tomem conta do banheiro mais uma vez.





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Originalmente escrito em algum momento de 2010, em Santana-AP, tendo sido publicado no meu antigo blog em 03 de março de 2014 e reescrito em 01 de outubro de 2017.





Ilustração:

A imagem escolhida para ilustrar este conto pertence ao anime Berserk, que é uma adaptação do mangá de mesmo nome, de autoria e arte de Kentaro Miura. No caso, o desenho mostra a mão de Deus segurando um behelit vermelho.

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